Animal
por Paulo Vinhal, em 16.05.16
Iluminado pela escuridão da sala, recordo. Anulo vagamente as raízes do ódio que sobem pelas paredes vazias e mastigo o ar da manhã sombrio e amargo. Avanço pela solidão dentro completamente desarmado, do alto da minha velhice prematura. A mesa posta de linho, os talheres desirmanados e as cadeiras rotas no tampo. A aura das gotas de chuva e os anéis espalhados no chão. Engulo lentamente o som da terra a despenhar-se no mar e imagino-a a roer a corda que a prende aos homens. Penso em mim como um animal que venceu a fome. Ligo os pontos na escuridão e fujo desarvorado através do silêncio. Procuro-te por todo o lado, mas apenas encontro estas raízes nas pedras que me seguram ao fundo.