Aqui estás tu
por Paulo Vinhal, em 03.10.16
O caminho de terra batida, ladeado de ervas altas e de pequenos troncos de canas e catos, leva-me até ao cimo de um dos pequenos morros das terras do meu pai. O transe do arvoredo e a respiração lenta da folhagem em redor da casa entranham-se no mundo e na voz. O vento sussurra no pânico dos vivos que cantam no cemitério contíguo e o meu olhar, trajado de desilusão e artes, percorre as lágrimas dos mortos junto aos carreiros e aos esgotos. Aqui estás tu neste caminho antigo. Aqui estás tu dentro dos meus braços. Levo comigo o pesado andor dos teus passos lentos e os leves pesadelos da voz que sussurra… aqui estás tu.