Sonho
O sono pesado chegou na praia com um sonho profundo, enrolado nas areias mornas carregadas de sal e algas. O travo da fé, alojado na garganta e nos pulmões abertos, recita em voz baixa um soneto antigo. Adormeço. Acordo. Adormeço de novo. Vejo-te ligada ao tecido negro da noite, pintada de amarelo e rosa. Junto a ti, três pássaros castrados com um piar sereno levantam voo em direção ao nada e lá longe, quase indistinto, um grupo de dez vultos brancos entra e sai do sonho por uma porta aberta. Estás-me a dizer coisas ao ouvido, mas a força deste sonho abafa as tuas palavras na melodia dos teus lábios grossos. A inconsciência da luz destrava a imaginação sombria. A areia morna embarga o sal das ondas. Acordo. Adormeço.